Quem sou eu

Jornalista e pesquisador de histórias em quadrinhos, dividido entre Natal e João Pessoa por tempo indeterminado.

2.28.2012

game of thrones

Não sou muito chegado num best seller. O primeiro (e último) Paulo Coelho que li foi O Alquimista, lá na sexta série. Depois, com uns 15 anos, encarei o Xangô de Baker Street, do Jô Soares - mas se você contar pra alguém, desminto na hora. Por isso, resisti horrores pra encarar a série 'As Crônicas de Gelo e Fogo', fenômeno editorial do norte-americano George R. R. Martin.

Porém, ano passado caí na besteira de assistir ao primeiro episódio da série televisiva 'Game of Thrones', produzida pela HBO sobre o volume inaugural da saga. Aí sacumé, né? A série é tão bem feita, que na primeira oportunidade adquiri os quatro primeiros livros por uma barbada.

(Aproveitei uma promoção e comprei em formato pocket, edições norte-americanas, por R$ 15 cada. Nem a pau que vou dar R$ 40 num livro que vende milhões. De todo modo já havia me decidido a ler no original porque achei uma sacanagem o que a editora Leya fez ao 'adaptar' uma tradução lusitana para o português brasileiro. Um desserviço para os muitos bons tradutores em atividade no país.)

Então, de todo modo foi uma leitura meio de trás pra frente: achei a série tão bacana que fui conferir o que havia dela nos livros que a inspiraram. Impressionantemente, havia muita coisa, principalmente os bons diálogos cheios de 'wit' que permeiam o programa de televisão.

A trama se passa em Westeros, um mundo medieval onde os verões duram alguns anos e os invernos podem se prolongar por décadas. Após uma conspiração, os antigos reis da dinastia Targaryen são derrubados por Robert Baratheon, que se mostra incapaz de conduzir os Sete Reinos. Uma intriga palaciana termina por opor as famílias Stark e Lannister na disputa pelo poder. Enquanto isso, os últimos sobreviventes dos Targaryen tentam retornar a Westeros para reclamar o trono a que têm direito.

Tive uma boa impressão, porque o que havia lido sobre os livros me desanimou bastante. Primeiro, uma resenha meio genérica do Luís Antônio Giron, na Época, exortando os leitores de hoje a abandonarem os George R. R. Martin e J. K. Rowling da vida em troca de Homero. Muito justo o pedido dele, mas acho que não funcionou.

Outro texto, este especificamente sobre o primeiro volume, Guerra dos Tronos, foi publicado antes mesmo da estreia na HBO, pelo Antonio Luiz M. C. Costa, na Carta Capital. Nele, o resenhista compara a saga fantástica de Martin com as peças históricas de Shakespeare, em especial as que abordam a Guerra das Rosas pelo trono britânico.

Sobre o texto do Giron, uma ressalva básica: comparar qualquer saga ou texto épico com Homero é covardia. Quer dizer, nessa pisada, até a Eneida de Virgílio pode ser considerada uma diluição do ceguinho Aderaldo da Ásia Menor, uma vez que rola até uma reciclagem de personagens pelo poeta latino. Nada contra a Ilíada ou a Odisseia (gosto mais do último que do primeiro), mas a galera pode dar uma viajadinha de leve antes de cair de cabeça neles.

Já o Costa faz uma análise bem interessante entre as duas obras e - obviamente - Martin apanha na cara do bardo inglês. Mas confesso que me falta estofo literário para avaliar. Sou mais chegado nas grandes tragédias e nas comédias e conheço poucas das tragédias históricas shakespeareanas.

Porém, uma sacada nesse texto que pode ter irritado aos fãs mais xiitas, a referência ao puritanismo e a um certo maniqueísmo exacerbado, me levou a uma comparação diferente de outras mais óbvias num primeiro momento, como o Ciclo Carolíngio, a Canção de Rolando, o Amadis de Gaula, ou qualquer outro romance de cavalaria medieval, por exemplo.

A leitura que me saltou aos olhos e me fez ver semelhanças com o livro do Martin foi 'Musashi', do Eiji Yoshikawa. Veja se não estou viajando no molho tártaro.

As duas histórias se estendem por milhares de páginas, mas se apoiam em uma estrutura narrativa formada por inúmeros capítulos relativamente curtos centrados cada um deles em um personagem. Com algumas diferenças, claro.

Em Musashi, os capítulos eram curtíssimos devido o livro ter sido publicado originalmente como folhetim num jornal - o que os deixou com um tamanho uniforme. Martin, por sua vez, pode prolongá-los à vontade para incluir suas extensas descrições de batalhas, refeições, paisagens, vestuários ou o que lhe aprouver.

Yoshikawa mantém o foco narrativo em quatro, cinco personagens no livro inteiro. Essa variação de ponto de vista quebra a monotonia de um relato tão extenso e faz com que o leitor construa o quebra-cabeça do enredo por conta própria. Martin costuma acrescentar um ou outro entre os volumes (até porque seus personagens morrem a granel), mas a média e a estratégia se mantêm.

Por fim, as duas histórias apelam a valores (ou estereótipos, se preferirem) muito caros às sociedades em que foram produzidas. Musashi, apesar de escrito no século 20, fala de uma época da qual a sociedade japonesa é muito saudosa: o período Edo, após a unificação do país pela dinastia Tokugawa. A saga do samurai Miyamoto Musashi, além de glorificar o estilo de vida zen budista que se incorporou à cultura japonesa por volta do século 12, está cheia de preceitos como a valorização da vida regrada, o respeito aos idosos, a manutenção da palavra e da honra, o desapego material.

Por sua vez, como apontou Costa, Jogo dos Tronos é carregado de um certo puritanismo que cai muito bem no paladar do leitor médio norte-americano: as cenas de sexo nunca envolvem os mocinhos, que também evitam empregar um linguajar mais 'sujo'; os personagens mais nobres são nobres até demais mesmo para uma obra de fantasia e por aí vai. A única - e principal - quebra no esquemão do gênero está na imprevisibilidade do que irá acontecer com os personagens mais cativantes da história.

Comentei no twitter que George R. R. Martin era, na verdade, o Manoel Carlos da fantasia medieval. Claro que era uma brincadeira, mas tem um fundinho de verdade. Além da quantidade absurda de personagens, tem aquele climão de telenovela: a gente sabe que não é lá grandes coisas, mas fica na expectativa pra saber o que vai acontecer nos próximos capítulos. Tanto é que nas férias tracei os dois primeiros livros e tive que me conter para não avançar no terceiro. Talvez após o fim da segunda temporada na tevê eu tome gosto de novo.



2.27.2012

abelardo barbosa

Assisti por esses dias, no GNT, ao documentário 'Alô, Alô, Teresinha', do Nelson Hoineff. Um tanto quanto atrasado, assumo, mas é uma pena que obras como essa não circulem pelas salas de cinema e a gente acaba tendo que esperar para que cheguem à TV (o filme foi lançado em 2009). O Brasil tem tradição no documentário, que o diga a obra de Eduardo Coutinho, e o filme de Hoineff só vem engrandecer essa tradição.




A grande sacada de 'Alô, Alô, Teresinha' é de evitar ao máximo o clichê de "o homem por trás do mito". Não interessa quem foi Chacrinha, como ele começou, como era sua vida familiar e coisa e tal. Há espaço para expor algumas idiossincrasias do homem, mas, no geral, o documentário descreve compropriedade as características do personagem midiático que ele criou.

O grande tema do filme me parece ser a exposição das engrenagens da fama, esta estranha e fugidia divindade. Apoiando-se basicamente em imagens de arquivo (uma pesquisa até interessante, mas no geral pouco explorada se considerarmos que o programa foi ao ar quase por duas décadas) e entrevistas com ex-calouros, cantores, ex-chacretes e técnicos que trabalharam no programa, 'Alô, Alô, Teresinha' desconcerta ao mostrar como a ilusão do sucesso (ou mesmo a luta para manter-se ligado a ele) pode ser cruel.

Cruel como era também o humor do Velho Guerreiro, que usava o povão como bucha de canhão para turbinar a audiência do programa. Claro que ninguém era inocente, mas o sonho da fama cega até quem já o alcançou (como fica evidente nas entrevistas com Wanderley Cardoso e Agnaldo Timóteo), imagine aí outros personagens mostrados no filme que (no caso dos calouros) não parecem ter o juízo meio firme.

De todo modo, um filme fundamental para entender a televisão brasileira.

***

O velho também escreveu sobre esse filme no blog dele. O texto tá melhor que o meu.

2.08.2012

poeminha para relaxar


eu queria pegar leve
no que falo
pegar leve no teu peito
meu amor
no teu pau
meu coração
eu juro
é que na minha mão
não tem mais jeito
tudo sempre
acaba ficando
duro

(poema homoerótico roubado descaradamente do Marcelino Freire)

2.03.2012

gazzara

porra. valeu demais, cara.

(1930-2012)


7 erros

qual é a versão mais invocada?

essa?


essa?


essa?


essa?


essa?


essa?


essa?


ou eça?


2.01.2012

chet